segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desencontro

Com que rispidez a vi olhar-me...

- Se sente bem? 
(perguntei-lhe, para não demonstrar minha lamúria por aquela visão).

- Não poderia estar melhor.
(respondeu-me ela, direcionando seus castanhos olhos e fitando os meus como se os fosse engolir).

Pensei, então por alguns milésimos de segundo, como poderia ela ser tão forte ao ponto sorrir. Então ela antecipou-me.

- Nós somos espelhos. Eu vejo em ti minha alma e você em mim sua perdição.

Aquilo soou a ele como um epitáfio. Mas ela continuava a sorrir... Os lábios tão docemente abertos, deixavam à mostra um sorriso que variava de melancolia a uma felicidade (ao ponto que não se podia mediar nem um nem outro)...

- De que adiantaria travar lutas? nem mesmo sei pelo que devemos lutar.... 

Com isso ela ia saindo...

- Sorria sempre, disse ele, mas sorria com o furor da alma... para que vosso sorriso seja o motivo dos sorrisos alheios, não de vosso desespero.

E ambos saíram... Ela em busca de seu sorriso sincero, e ele a procura de prazer. Nunca mais se viram... depois daquele primeiro-último anormal encontro na rua esperança, sem número.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Anjos

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Sentindo da brisa o amor que nos dá esbanjo;
E do calor todo infinito que então sentimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Qual espelha sua alma em sublime arranjo,
De céu em cores mil e em mil sóis em arrimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
E sentindo o vento nórdico nos encontrar.

Fazendo-nos juntar, e quando assim abrimos,
Os olhos à imensidão, ao som d’um banjo,
Que tocado por Eros, emite o som do amar.