quinta-feira, 12 de julho de 2012

Morrer

Quero morrer no auge da juventude,
morrer enquanto escalo no Japão.
Ou simplesmente correndo solitário.

Quero morrer em grande altitude,
de infarte por excesso de emoção.
Morrer celebrando aniversário.

Não quero a paixão da quietude,
nem a velhice de esperar o caixão.
Não quero a fortuna do centenário.

Quero deleitar-me ao som do alaúde
a tocar Chopin na savana do Sudão,
e morrer exausto como prostibulário.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desprendido

Mal que me suga a alma,
é sangue de meu sangue.
É meu canto, meu mangue...

Para onde terá ido minha calma?
Qual o sabor dela? Qual a cor?
Desperto, numa escura viela, incolor.

Hei o que me resta é pensamento,
desconforto, que me agrada o gênio,
destempero, que me faz essênio.

Cubra-me o peito, doce tormento,
e deixe a alma seguir na perdição,
pois a fortuna está na admoestação

[e não na calmaria do contentamento!

domingo, 8 de julho de 2012

Ontem

Ontem andava cabisbaixo pela rua,
e reconhecia as cicatrizes que caiam.
Cicatrizes, reflexos, retalhos, áscua...
As portas do passado se ascendiam.

Ontem emudeci o universo meu,
desfiz da minha criatura, meu ser.
Andei sob o sol e o céu reconheceu
a mágoa, mas não me quis tecer.

Ontem a chuva a mim representava,
e molhava a terra com minha ilusão.
Ontem o espelho da alma ecoava
meu âmago de tortura e perdição.
Ontem o hoje sequer importava,
Ontem o hoje não tinha expressão.

Restos de ontem me encontraram,
e me deixaram aos pedaços, enfim.
Ontem fui anequim. Ontem me arrastaram.
Ontem me deixaram. Ontem serei caim!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Contrastes

Deu-lha o teu castelo de gelo,
e ela o recebeu, sem calor.
Dois cubos de dor, um em cada peito...

Olharam-se. Viram-se. Apaixonaram-se,
o frio da noite caiu e eles sentiram,
Apressaram-se, mas ninguém se permitiu.

Não houve calor em nenhuma nau,
e elas se foram com a onda fria.
Espia, Espia... não é amor, não é, não é.

Dois cubos de gelo em peito gélido,
Duas almas frias na mesma mão.
Pensamento cálido, e medo, e passado!