segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Encantamento!

Não bastassem os dias incomuns
as noites frias de verão à assolar,
os pássaros únicos a cantarolar,
e a dança caótica no mar dos atuns.

Não bastassem as rosas vermelhas,

o fulgor único do terreno cinza-vil,
o céu com seu brilhante azul anil,
e as flores completadas por abelhas.

Não bastassem estas situações,

estes contrastes que nos foi dado,
o mundo continuaria sendo alado,

sob forte chuva ou até mesmo trovões,

ou ainda que outras fossem as tradições,
tudo continuaria sendo encantado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

SoulFly

Sol em terra ardente, afogado em mar anil,
nasça, nasça voltando olhos ígneos a mim,
dá-me latente ardor em tecido de sutil cetim,
para deitar-me pálido sob o esquecido abril.

Quisera vós fazer de mim seu pecador,
sua alma andante, seu medo, sua crueldade,
obstruindo esta alma pueril em insanidade,
para sentir em minha pele seca seu calor.

Mas, hei de surgir negro sob a luz da lua virginal,
e tirar-me-ei de seus olhos bramidos a morrer,
esperando a lua amante única de meu amor banal,

Que consumir-me-á sentindo seu ego puro corroer,
pois consumirá alguém que deu se lhe corpo venal,
e na prematura morte a lua do amor vil irá beber.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Perdição

Andante oculto em afãs fenecidos,
Donde os pés envoltos em mar,
Saboreavam o mareado andar,
dos passos que iam esquecidos.

Se de feras o sol ofusca sumido,
Um lume encalda o algido temor,
que se de perda a vida carece a dor,
então de dor o mundo se tem perdido.

Perdido se-lhe-á aquele suspiro ardil,
o vulto que lhe cobre a maculada mente,
proprio do terror que lhe semeia o vil,

quando está sob o pesar do que sente,
vai-se além do seu pecado cruel, pueril,
encontrar-se perdido na solidão ardente.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desencontro

Com que rispidez a vi olhar-me...

- Se sente bem? 
(perguntei-lhe, para não demonstrar minha lamúria por aquela visão).

- Não poderia estar melhor.
(respondeu-me ela, direcionando seus castanhos olhos e fitando os meus como se os fosse engolir).

Pensei, então por alguns milésimos de segundo, como poderia ela ser tão forte ao ponto sorrir. Então ela antecipou-me.

- Nós somos espelhos. Eu vejo em ti minha alma e você em mim sua perdição.

Aquilo soou a ele como um epitáfio. Mas ela continuava a sorrir... Os lábios tão docemente abertos, deixavam à mostra um sorriso que variava de melancolia a uma felicidade (ao ponto que não se podia mediar nem um nem outro)...

- De que adiantaria travar lutas? nem mesmo sei pelo que devemos lutar.... 

Com isso ela ia saindo...

- Sorria sempre, disse ele, mas sorria com o furor da alma... para que vosso sorriso seja o motivo dos sorrisos alheios, não de vosso desespero.

E ambos saíram... Ela em busca de seu sorriso sincero, e ele a procura de prazer. Nunca mais se viram... depois daquele primeiro-último anormal encontro na rua esperança, sem número.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Anjos

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Sentindo da brisa o amor que nos dá esbanjo;
E do calor todo infinito que então sentimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
Qual espelha sua alma em sublime arranjo,
De céu em cores mil e em mil sóis em arrimos.

Somos anjos de uma asa só, e só conseguimos 
Voar quando nos abraçamos com outro anjo.
E sentindo o vento nórdico nos encontrar.

Fazendo-nos juntar, e quando assim abrimos,
Os olhos à imensidão, ao som d’um banjo,
Que tocado por Eros, emite o som do amar.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

As asas do amor

Que parta meu amor em livre assento,
em busca de seu extremo esplendor,
leve contigo meu sublime sentimento,
e traga um sorriso seu em puro ardor.

Levai a alma inepta em sua busca sagaz,
fazei dela sua sectária puritana amante,
rogai aos amores que lhe dai lidima paz,
para em meus braços sentir-se arfante.

Vá ao érebo de teu rústico pensamento,
longe vislumbrar umas outras paisagens,
pois, andarei pensativo e a passo lento,

olhando o céu as estrelas e as imagens,
lembrando a ti aumentarei o meu intento,
e buscar-te-ei onde esteja as floragens.

sábado, 16 de junho de 2007

Sob os pesares do amor

Se de vossa lagrimas sinto presença,
sinto vossa paixão ardente pura linda,
que de amor funesto se mostra finda,
Por amar a quem lhe oferta indiferença.

Quão degradante e ruinosa é sua sina,
que por amar demais, está se em lamuria,
tentando conquistar uma alma espúria,
qual lhe dá dor e tristeza repentina.

E não se sabe porque amas a tal tristeza,
Sabes que podes não viver sem sentimento,
Vives ainda à merce do que lhe tira beleza,

Do que lhe dá um eterno descontentamento,
se lhe é assim que merece viver a realeza,
vivamos nos, plebeus, à traça e ao vento.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Amor Amante

Amor com amor se compra.
Vendido o amante esquece,
fazendo de palavra prece,
E que prece amante cumpra.

é amor amor ao nada em si,
amar ao tempo, à luz austera,
amar ao docil e também a fera,
amar a quem lhe ama e tem-si.

Amar como que o gelo ao sol,
navegar profundo mar ardente,
do oceano do amor que mente,

e sentir amante ser latente,
junto às abobadas e arrebol,
esquecendo ser amante atol.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Àquele amor derradeiro.

O amado visto de amor se completa,
sendo amante a felicidade é repleta
mas amor não é amor quando não se 
sabe amar o que quer que ame você.

Amor oblacente, carente ou devasso,
No mundo esta em eterno compasso,
nas sinuosas lembranças d'um amado
ser que sonha sempre que é alado.

E por que amar amor como a um tesouro,
esperar da terra frutos mil ou solidão
em si encontrar a dor vil banhada a ouro,

Sedimentar o amor para o amor em vão,
Sentir dele como que um corte ao couro,
que abre a pele como rasga o coração.

sábado, 26 de maio de 2007

Bela

Se de profunda beleza encantável,
Que com feérico som soa tristeza,
De traços sublimes és quase estranheza,
De estranheza és singularidade inditável.

Imitaram-te ao fazer as estrelas,
Até vosso lume fizeram copiar,
Seus olhos tentaram expiar,
Para de ti conseguir esconde-las.

Mas nada podem contra vossa beleza,
Que equipara-se às deusas perdidas,
Já que aqui tudo seria apenas tristeza,

Pois sem vós teríamos vidas aturdidas,
Sem pensamento e também sem alteza,
Num reino vagante de almas feridas.

Esquecimento passageiro!

Quanto de mim tenho perdido,
Nos rios de pedra da babilônia,
Em viver sinto uma tal insônia,
Que em gelo me sinto aquecido.

E mais do mundo se esperar pode,
Visto de baixo é tudo tão mais real,
Cósmico e não menos demasiado leal,
Que bovino que odoriza a um bode.

Ansiando tirania as reles sociedades,
equaliza a variável do tempo-espaço,
neste teorema são apenas paridades,

De valor e rejeição bem escasso,
destes que acreditam achar realidades,
entre este mundo cruel de linhas e traços.

Perdido!

Quando pensando o que entendo
Vejo-me desentendendo o que sei,
O desentendido como o procurarei
Se não sabido busco o que não pretendo.

De tantas coisas que penso saber,
Nada demais me é interessante,
Perdido (sei, não sei) me vejo andante,
Lembrando do que não sei perceber.

Mas senão isso o que busco?
À margem está a única cura,
Infiltrada neste lusco-fusco,

de pesar e ilusão e talvez loucura,
pois não se tentar achar no ofusco,
Onde estará realmente o que se procura?

quinta-feira, 22 de março de 2007

Desvario!

Nada se comporta aleatório.
O caminhar atinge a perfeição.
Os dias sedimentam a destruição,
Que alimenta o mundo ilusório.

Caminham porque isto é destino?
Vivem sob o ápice do ardor vil,
Corroem-se no obstáculo senil,
Que mantém-no neste desatino.

E que basta ao ser incompleto,
Suas maduras concepções de vida?
Sofrimento de que está repleto?

Basta somente à ferina ferida,
Que corrói-lhe por completo,
Tirando-o desta jornada sofrida.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

O Funesto Fim!

Um agouro suspirou no ouvido,
Um canto ao longe se escutava,
brando o som às pedras inalava,
Fantasiando um belo dia altivo.

Perdeu-se sob o céu escarlate,
Uma lagrima a face lhe corria,
O sol fulgindo vil lhe sorria,
Torrando aquela face que bate.

Voou, como uma águia no horizonte,
o vento, a face gélida, lhe tangia,
com olhos fechados via-se ageronte,

Na transição sentiu assaz algia,
Algoz à terra foi ditosa fonte,
Que ofuscou o homem em biofagia.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Caterva

Rompeu-se o liame do ser indolor,
No centro da evasão viu-se perdido,
Caminhando ora austero, ora comidido,
porfiou-se com si em brando palor.

Ruinado, os passos lhe trajavam,
voraz despiu-se da trajédia,
Movendo-se onde encontrava inédia,
E fracassos que lhe aguardavam.

Observava ao longe aquela migração,
Horrendos prospectos de humanidade,
Meticulosas formas de idealização,

Onde nada faz esta tal sociedade,
Esperando em caterva a realização,
De terra em céu e céu em felicidade.