sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Fogueira

Far-te-ei uma grande fogueira,
com miriades de pensamentos.
Com tuas mentiras farei tormentos,
e na brasa te projetarei poeira.
Sentar-me-ei junto ao brando calor,
recitarei teus incautos acalantos,
alimentarei com delicados cantos
à noite fria que alimenta-se da dor.
Com tuas promessas farei lenha
com a qual alimentarei o lume.
Não importa qual seja o ardume,
a fogueira apagará do destino a brenha!


Vicent

Vincent Malloy is seven years old
He’s always polite and does what he’s told
For a boy his age, he’s considerate and nice
But he wants to be just like Vincent Price

He doesn’t mind living with his sister, dog and cats
Though he’d rather share a home with spiders and bats
There he could reflect on the horrors he’s invented
And wander dark hallways, alone and tormented

Vincent is nice when his aunt comes to see him
But imagines dipping her in wax for his wax museum

He likes to experiment on his dog Abercrombie
In the hopes of creating a horrible zombie
So he and his horrible zombie dog
Could go searching for victims in the London fog

His thoughts, though, aren’t only of ghoulish crimes
He likes to paint and read to pass some of the times
While other kids read books like Go, Jane, Go!
Vincent’s favourite author is Edgar Allen Poe

One night, while reading a gruesome tale
He read a passage that made him turn pale

Such horrible news he could not survive
For his beautiful wife had been buried alive!
He dug out her grave to make sure she was dead
Unaware that her grave was his mother’s flower bed

His mother sent Vincent off to his room
He knew he’d been banished to the tower of doom
Where he was sentenced to spend the rest of his life
Alone with the portrait of his beautiful wife

While alone and insane encased in his tomb
Vincent’s mother burst suddenly into the room
She said: “If you want to, you can go out and play
It’s sunny outside, and a beautiful day”

Vincent tried to talk, but he just couldn’t speak
The years of isolation had made him quite weak
So he took out some paper and scrawled with a pen:
“I am possessed by this house, and can never leave it again”
His mother said: “You’re not possessed, and you’re not almost dead
These games that you play are all in your head
You’re not Vincent Price, you’re Vincent Malloy
You’re not tormented or insane, you’re just a young boy
You’re seven years old and you are my son
I want you to get outside and have some real fun.”

Her anger now spent, she walked out through the hall
And while Vincent backed slowly against the wall
The room started to swell, to shiver and creak
His horrid insanity had reached its peak

He saw Abercrombie, his zombie slave
And heard his wife call from beyond the grave
She spoke from her coffin and made ghoulish demands
While, through cracking walls, reached skeleton hands

Every horror in his life that had crept through his dreams
Swept his mad laughter to terrified screams!
To escape the madness, he reached for the door
But fell limp and lifeless down on the floor

His voice was soft and very slow
As he quoted The Raven from Edgar Allen Poe:

“and my soul from out that shadow
that lies floating on the floor
shall be lifted?
Nevermore…”

By Tim Burton

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Inconsistência

É cedo, e o sol nasce no horizonte.
Não há ninguém, e o silêncio impera.
A água vai e vem, cria-se nova era,
e nada se renova, e morre a fonte.

Ouve-se o mar, e o céu sorri comovido.
É onda, e siri correndo assaz apressado.
É céu, é mar, é silêncio inconformado,
preso nas circunstâncias do acontecido.

Prende-se no silêncio, e o peito se conforta.
As estigmas do céu são cores desbotadas,
feridas pela natureza ferina que a recorta.

Os homens, porém, com suas mãos atadas
vêem o céu se decompor em natureza morta,
mas não sentem nenhuma das punhaladas.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Morrer

Quero morrer no auge da juventude,
morrer enquanto escalo no Japão.
Ou simplesmente correndo solitário.

Quero morrer em grande altitude,
de infarte por excesso de emoção.
Morrer celebrando aniversário.

Não quero a paixão da quietude,
nem a velhice de esperar o caixão.
Não quero a fortuna do centenário.

Quero deleitar-me ao som do alaúde
a tocar Chopin na savana do Sudão,
e morrer exausto como prostibulário.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desprendido

Mal que me suga a alma,
é sangue de meu sangue.
É meu canto, meu mangue...

Para onde terá ido minha calma?
Qual o sabor dela? Qual a cor?
Desperto, numa escura viela, incolor.

Hei o que me resta é pensamento,
desconforto, que me agrada o gênio,
destempero, que me faz essênio.

Cubra-me o peito, doce tormento,
e deixe a alma seguir na perdição,
pois a fortuna está na admoestação

[e não na calmaria do contentamento!

domingo, 8 de julho de 2012

Ontem

Ontem andava cabisbaixo pela rua,
e reconhecia as cicatrizes que caiam.
Cicatrizes, reflexos, retalhos, áscua...
As portas do passado se ascendiam.

Ontem emudeci o universo meu,
desfiz da minha criatura, meu ser.
Andei sob o sol e o céu reconheceu
a mágoa, mas não me quis tecer.

Ontem a chuva a mim representava,
e molhava a terra com minha ilusão.
Ontem o espelho da alma ecoava
meu âmago de tortura e perdição.
Ontem o hoje sequer importava,
Ontem o hoje não tinha expressão.

Restos de ontem me encontraram,
e me deixaram aos pedaços, enfim.
Ontem fui anequim. Ontem me arrastaram.
Ontem me deixaram. Ontem serei caim!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Contrastes

Deu-lha o teu castelo de gelo,
e ela o recebeu, sem calor.
Dois cubos de dor, um em cada peito...

Olharam-se. Viram-se. Apaixonaram-se,
o frio da noite caiu e eles sentiram,
Apressaram-se, mas ninguém se permitiu.

Não houve calor em nenhuma nau,
e elas se foram com a onda fria.
Espia, Espia... não é amor, não é, não é.

Dois cubos de gelo em peito gélido,
Duas almas frias na mesma mão.
Pensamento cálido, e medo, e passado!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Escuridão

Rondas meus pensamentos,
            tristezas tolas e vãs.
Assola a alma impiedosa,
Assola os cantos da natureza.

Andas, solicita e caridosa,
       pelos becos imundos.
Beija à boca já ofegante,
dá o braço com maestria.

Sempre presente, dia ou noite;
     Busca o que tem, o que dá.
Ai de mim em teus braços deitar.
Não hei levantar, não hei, não hei.